segunda-feira, 13 de junho de 2011

Talvez ainda exista esperanças...

Hoje me emocionei de verdade numa audiência de adoção no meu trabalho, um homem ao falar da criança que estava adotando se emocionou tanto que eu chorei junto a ele. Sabe aquele momento que você tenta encontrar as palavras perfeitas pra descrever alguém e então você lembra do rosto da pessoa e de tudo o que ela faz, como ela é, o que vocês já fizeram juntos, e então você tenta não chorar, mas não consegue, e então as lagrimas caem e as palavras perfeitas que você tinha encontrado pra descrever a pessoa simplesmente desaparecem, e então você começa a falar com a emoção, e então você chora descontroladamente, mesmo tentando não chorar, aí todas as pessoas que estão perto de você, vendo sua emoção verdadeira, se emocionam também, bom foi isso que aconteceu hoje.

A criança é filha de uma índia de 18 anos, que depois de engravidar foi abandonada pelo namorado (nem sei se namorado é a palavra certa pra usar, porque o relacionamento deles não era bem um namoro), sozinha, sem condições de cuidar de uma criança, na verdade sem condições de cuidar dela própria, ela optou por entregar a criança, pois ela sabia que eles iriam cuidar dela melhor do que ela, dar a criança tudo o que ela não poderia dar. Essa foi a primeira prova de amor a essa criança. Alguns podem dizer que não, que não é prova de amor uma mãe dar o próprio filho, mas ficar com a criança não seria amor, seria egoísmo, amor é quando mesmo querendo ter uma pessoa sempre por perto estamos dispostos a fazer sacrifícios para que ela fique bem, para que seja feito o melhor para o ser amado, amor é sacrifício, amor é sacrificar o próprio amor só para o ser amado ser feliz. Mesmo contado com sua pouca idade, a adolescente índia amou demais o filho a ponto de se sacrificar só pra que ele fosse bem cuidado.

A segunda prova de amor pela qual essa criança passou foi a aceitação por parte do casal adotante: um casal branco, que a acolheu com todo amor e carinho que alguém poderia merecer, sem se importar com raça, cor, etnia ou qualquer outra coisa. Isso foi provado pelo depoimento do homem, foi tão comovente, tão sincero, que qualquer um que estivesse naquela sala e possuísse um pingo de sentimentos sequer se emocionaria. Ele falava daquele jeito que só quem ama de verdade alguém ou alguma coisa fala. O Juiz perguntou a ele se ele estava ciente das responsabilidades que a adoção daquela criança trazia, se ele entendia e irreversibilidade daquele ato, se ele entendia que adotar uma criança não era como pegar um bichinho de estimação e depois que ele não fosse mais bonitinho abandoná-lo, deixa-lo a própria sorte, foi ao responder estas perguntas que o homem demonstrou que aquela criança jamais poderia ser mais amada do que ele e a esposa já o amavam. Ele falou com lágrimas escorrendo pela face que aquela criança já era muito amada, que eles haviam esperado por ela há muito tempo, que ela já havia cativado e se instalado no coração deles de tal forma que seria impossível retirá-la de lá, ele falava tudo isso tentando controlar as incontroláveis lágrimas. Era engraçado e emocionante ver ele falando, ele parava de vez em quando no meio das frases tentando não soluçar na palavra seguinte. Eu como mera escrivã daquela audiência, embora precisasse manter a sisudez e a não-participação, não consegui me conter, e chorei, chorei junto ao homem, chorei copiosamente e desavergonhadamente, a ponto do juiz perguntar ao final da audiência se eu estava me sentindo bem, ao que respondi que sim, que apenas não conseguia ver gestos de amor tão lindos se me emocionar.

Acho que essa criança será feliz. Ela vai ser feliz porque vai ser amada, ou melhor, é amada. Amada por sua jovem mãe que teve coragem e amor suficiente pra abrir mão de seu egoísmo e entrega-la a quem a amaria mais e a ampararia melhor. Amada por seus novos pais que mesmo não tendo nenhuma relação sanguínea com ela já a consideram a maior bênção de sua vida. É tão bom ter esperanças de que o amor ainda existe, que o preconceito é pequeno diante da bondade, da aceitação, do respeito. Eu espero que todos eles sejam felizes. Espero que a vida continue me apresentando boas surpresas, me dando a cada dia, quando eu já estiver prestes a desistir, novas esperanças de que, afinal de contas, o amor possa existir.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Mais uma Chance ?

Você veio hoje até mim, depois de tanto tempo e me pediu que desse mais uma chance a nós dois. Eu parei por alguns segundos. Quem me olhava naquela momento podia imaginar que eu estava pensando em uma resposta pra te dar, talvez um sim ou um não. Que idiotas! Na verdade, eu estava me segurando pra não dar uma bela gargalhada na sua cara. É, é isso mesmo que você leu, eu queria rir na sua cara! Era uma vontade tão grande de dar a maior gargalhada do mundo bem ali, na sua frente, mas aquela gargalhada gostosa, aquela que mesmo sem querer, a gente até cospe em quem tá por perto, aquela em que a gente não se segura sobre as pernas e cai no chão.
Era essa gargalhada que eu queria te dar como resposta, mas ao invés disso, eu simplesmente te virei as costas e te deixei lá, sozinho olhando o movimento dos meus longos cabelos castanhos. Ora quem eu quero enganar, você ficou foi olhando o movimento da minha bunda dentro do meu jeans apertado, lembrando-se talvez que um dia tanto ela, quanto todo o meu corpo já tinha estado em cima de você e você burro deixou escapar por pura burrice. É, foi burrice mesmo! Porque você nem precisava fazer nada, só bastava ter ficado lá, parado, fingindo que se importava comigo, ter ficado lá calado, ter feito “hunrum” quando eu dizia que te amava, ter ficado lá, mudo, enquanto eu tentava amar por nós dois, enquanto eu tentava sozinha fazer o amor sobreviver, enquanto eu inventava desculpas pra mim mesma, enquanto eu inventava histórias pra justificar seus atrasos, suas grosserias, suas mentiras, suas faltas de palavras, sua falta de amor. Mas não, não bastava pra você ter alguém que te amava não era? Você queria mais, você queria uma louca que inflaria o seu ego a cada vez que você se sentisse por baixo, você queria alguém pra pisotear quando o mundo inteiro te dizia que você não era bom o bastante, você queria uma pessoa, que por mais que você desprezasse, iria estar sempre ali, te esperando voltar, pronta pra ser o seu ombro amigo, seu escape, mesmo que a pessoa que você esperasse encontrar não fosse ela.

E você veio até mim hoje e me perguntou se eu poderia dar mais uma chance a nós dois. Eu queria gargalhar na sua cara até perder o ar, ou até me engasgar com minha própria saliva. Mas você quer saber realmente qual a minha resposta praquela pergunta? Não, eu não poderia dar mais uma chance a nós dois, e sabe por quê? Porque eu já te dei todas as chances que eu poderia dar. Teve um tempo, que não existia a Minha Vida, e sim a sua, e eu fazia da sua a minha vida. Mas agora eu tenho a minha própria vida, e sabe quem é a pessoa mais importante pra mim agora? Eu, e é por isso que eu não posso nem quero, te dar uma nova chance. Por sua causa eu deixei de acreditar no amor, por sua causa eu me comparava com outras mulheres, me achava feia, me achava inferior a você, achava que nunca poderia encontrar outro alguém tão bom quanto você, tão bonito, tão educado com os outros, mas quer saber, hoje eu sei que você era quem não me merecia, hoje eu sei que eu sou linda, inteligente, especial e quanto a você? É apenas um fantasma do meu passado, e como eu não acredito em fantasmas, você não é nada! Tenho que te agradecer por ter me feito sofrer tanto, por ter me feito tão infeliz, por ter me humilhado tanto, porque hoje em dia eu aprendi a me valorizar e a perceber que quem não me faz me sentir bem e especial, é alguém que não me merece.

E você ainda teve coragem de vir me perguntar se eu poderia dar uma nova chance a nós dois. Ah, mas eu queria mesmo gargalhar na sua cara! Mas se você ler este texto, vou te dar a resposta agora, de forma bem sucinta e resumida: VÁ SE FODER! Sacou? rs'

"Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais - por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia – qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido."
(Caio Fernando Abreu)

E o pior de nunca ter tido o coração partido ?