sexta-feira, 26 de março de 2010

Um conto, para matar a saudade!


Nossa, quanto tempo! Estava até com saudades!Mas ando fazendo tanta coisa ultimamente, que nem tenho tempo para uma das coisas que mais amo na vida: ESCREVER. Como disse a um amigo (Pedro, tô falando de você!) quando eu FALO é uma verdade DAQUELE MOMENTO, mas quando eu ESCREVO é a verdade DE VERDADE. Confuso? É eu também acho! Mas vou tentar explicar (embora tenha certeza que vai é complicar mais!), quando eu escrevo é por que não aguento mais guardar dentro de mim o que penso e sinto sobre tudo. Sei lá, parece que quando escrevo é como se fosse outra pessoa, é como se tivesse o dom de contradizer tudo o que falo... É algo que vem realmente de dentro! Não que quando eu fale algo seja mentira, mas é uma verdade só daquele momento!Vou parar de tentar explicar, porque até eu estou ficando confusa!

Ah, escrevi um conto (acho que é um conto!), o primeiro da minha vida! Inspirado num texto do autor Caio Fernando Abreu, O dia que Júpiter encontrou Saturno (descobri sem querer que ele é minha alma gêmea literária! Os textos dele são lindos, perfeitos, meio depressivos, do jeito que amo. O tipo de leitura que recomendo!). Espero que gostem! ;)
P.s.: O conto não tem título, podem sugerir um, por favor!
Obrigada! ;)

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Conto!

Ela estava tão confusa. Nada que fazia parecia ser certo ali. Talvez colocar em uma pequena mochila tudo que lhe fosse essencial, talvez sair de casa sem destino e ver para onde seus passos confusos lhe levariam. Ou talvez apenas ela fosse deitar em sua cama, esperar adormecer e rezar para que toda a dor, todo o sofrimento passasse ou que simplesmente ela esquecesse tudo o que a afligia naquele momento. Mas todas as alternativas que ela tinha não lhe pareciam nem um pouco certas ou eram o que ela realmente queria fazer. Saiu de casa, os cabelos desgrenhados, o rosto sem maquiagem, a roupa amassada. Não sabia o que f azer, só sabia que tinha que fazer. Pegou o carro e começou a dirigir a esmo, entrava e saia de ruas que talvez ela nunca vira. Não sabia para onde ir, só sabia que tinha que ir. Algo a empurrava para frente, sempre adiante, embora em sua cabeça tudo a fizesse querer voltar e voltar, voltar para um momento em que ela sentisse paz, embora ela nem conseguisse se recordar qual fora o último momento em que verdadeiramente ela estivera em paz. A vida não fora só tristeza, pelo menos ela achava que isso era verdade, mas naquele momento as coisas ruins eram tantas que apagavam qualquer momento de sorriso sincero que ela tivera em sua vida, se é que alguma vez seu sorriso fora sin cero. Sem perceber, havia dirigido até o aeroporto. Não sabia ao certo o porquê e talvez nem estivesse em condições de pensar em porquês, apenas saiu do carro e caminhou, aonde seus passos a levariam era algo totalmente incerto. Talvez sua cabeça não fosse mais a responsável por seus movimentos, seus pés estavam desconectados. Sem perceber estava no balcão de uma agência de viagens, onde uma moça que ela não conseguia enxergar, lhe falava sobre inúmeros roteiros de viagens, lhe mostrava a felicidade de alguns lugares, lhe mostrava a beleza de alguns pontos turísticos. Mas não er a aquilo que ela queria, se é que ela ainda queria algo. Sem pensar comprou uma passagem. Para Paris. Ela via uma cidade iluminada, aquelas luzes simbolizavam exatamente o oposto de como estava seu coração naquele momento. A mocinha da agência ainda perguntou e perguntou, em vão, tentando obter respostas que ela não sabia dar. A viagem estava marcada para o outro dia, parecia muito tempo. Sem hesitar voltou ao carro. Estática. Imóvel. Gelada. Como seus sentimentos. Ela esperava que algo acontecesse. Mas nada acontecia. Olhou em volta, todas as pessoas sorriam. Pareciam s orrisos verdadeiros, sorrisos dos quais ela sentia pena, pois ela sabia que eles passariam, mais cedo ou mais tarde eles se tornariam dor e angústia. Ela sentia pena. Olhou de novo, mas dessa vez não enxergava nada além de sua própria dor. Entrou no carro e tornou a dirigir a esmo. Estava tão sozinha consigo mesma, estava tão centrada em sua própria dor. Não sabia o que fazer, para onde ir. Qual era o seu lugar? Ela não tinha lugar, não naquele momento, não haveria lugar para alguém que sofria como ela. Em casa, sentada no sofá, esperava as horas passarem. Esperava. Esperava. Esperava. Como as horas podiam demorar tanto? Imersa na dor, ela mal podia perceber as coisas a sua volta, talvez fosse um pouco de egoísmo de sua parte, ou talvez dentro de si mesma ela estivesse protegida e protegesse os outros. Tentando perceber aquela sala viu a mãe sentada a seu lado, falando coisas que ela não compreendia, oferecendo-lhe algo que mesmo sem saber o que era ela não queria. Por que era tão difícil sair dali, sair de dentro dela mesma, falar o que ela estava sentido, embora ela não soubesse o que ela estava sentindo. Maquinalmente subiu ao quarto, após um banho demorado, vestiu-se, p enteou-se, maquiou-se. Saiu de casa. Entrou no carro. E mais uma vez a esmo pela grande cidade ela dirigiu. Parou em frente a um bar. Ele era tão alegre e ao mesmo tempo tão triste, olhou as pessoas que ali estavam tão dentro de si mesmas, tão sós, e ao mesmo tempo tão próximas umas das outras, dançando, tentando em vão ou não, esquecer-se de seus problemas, de suas vidas ou de quem elas eram. Entrou. Sentou-se em uma mesa próximo a janela de onde podia enxergar a rua e mais acima o céu. Ah o céu! Como sentia inveja das estrelas. Elas estavam lá, tão longe da terra, tão sozinhas com elas mesmas, brilhavam e encantavam os meros mortais. Tocava uma m úsica animada. Mas ela não se movia. Tocava uma música triste. Mas ela não se movia. Na penumbra pôde observar um corpo se aproximar. Ele não falou nada. Apenas sentou-se a seu lado e em silêncio, sozinhos cada um em seu mundo, fizeram companhia um ao outro. Não precisavam de palavras para entender-se, bastava que estivessem ali, respirando o mesmo ar. As pessoas ainda dançavam.
- Eles parecem felizes.
-
Eles acham que estão felizes.
- Eles não sofrem.
- Mas eles vão sofrer.
- Gosto de ver as estrelas.
-
Gosto de ver as estrelas.
- O céu é tão iluminado...
-
O céu não capta a tristeza da te rra.
- O céu é indiferente a tristeza da terra.
- Acho que as estrelas são felizes.
Ficaram em silêncio. Admirando as estrelas. Ela ainda sofria. Seu coração ainda estava apertado. Ainda sentia como se cada órgão de seu peito estivesse sendo esmagado. Mas ele estava ali. E mesmo que não falasse sequer uma palavra ela sabia que ele ainda estaria ali.
- Vou pra Paris amanhã.
- Vou ficar aqui mesmo.
- Talvez eu não volte.
- Você nunca irá esquecer.
- Talvez eu não volte.
- Você sempre será você. Você sempre estará presa dentro de si mesma. Você sempre sofrerá. Fugir não vai adiantar.
O silêncio nã
o doía com ele. O silêncio era gostoso. Ele a fazia esquecer-se de si mesma. Ele a fazia esquecer-se da dor. Ele a fazia esquecer o mundo.
- Dorme comigo?
-
Não.
-
Me beija?
- Não. Você vai ficar se eu te beijar?
-
Não.
-
Mesmo assim eu vou tentar.
E eles se beijaram. Durante alguns poucos segundos aquilo era tudo o que ela tinha e o que ela queria. Era o segundo de paz pelo qual ela procurara o dia inteiro sem saber
. Era o fio de esperança que ela tinha medo de se romper. Era a estrela brilhando no céu que tanto lhe causara inveja. Era o sorriso de felicidade das pessoas no aeroporto, mas assim como aquele sorriso, ela sabia que aquele beijo teria um fim. E teve. Eles se olharam nos olhos. Ele acariciou sua bochecha.
-
Você vai ficar.
-
Não.
- Você vai voltar?
- Não sei. Você vai me amar?
-
Talvez.
- Você vai lembrar?
- Pra sempre. Você vai lembrar?
- Pra sempre.
Ela saiu do bar. Ela entrou no carro. Não ousou olhar para trás. Ela sabia que ele ainda estaria lá, olhando as pessoas na rua, olhando as estrelas no céu. Ele a olharia até que ela estivesse bem longe. Até que não a pudesse ver. Ela andara o dia inteiro, sem rumo sem destino, esperando encontrá-lo em todos os lugares que fora. Ela passara a vida inteira esperando pelo dia em que ele a beijaria. Ela não o conhecia. Mas ninguém a conhecia tanto quanto ele a conheceu naquela noite. Um estranho havia se aproximado, um estranho a beijara, um estranho havia decifrado sua dor. Um estranho. Talvez um dia ela voltasse, talvez um dia eles se reencontrassem, talvez um dia ela pudesse esquecer, talvez um dia ela pudesse lembrar . Agora, ali, sentada no saguão do aeroporto esperando o dia amanhecer, esperando o avião partir, ela apenas pensava em quanto ela sofria. Talvez um dia ela o visse sentado em um bar beijando outra estranha, talvez um dia ela beijasse num bar um outro estranho. Mas o que era certo é que ela sempre se lembraria daquele beijo. O mundo continuava a girar, sua dor continuava a sufocar. Ela não estava fugindo, ela estava partindo. Ela voltaria? Talvez. Ela lembraria? Pra sempre.


O qe acharam! Ai que medaa... ;D

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