Falei na postagem anterior do Caio Fernando Abreu, pois bem, o cara é um gênio! Li um único texto dele, e foi suficiente para me apaixonar completamente por tudo que ele escreveu e querer ler mais e mais. Além de uma verdade perturbadora, uma linguagem tão fantástica e uma criatividade estupenda, seus textos emocionam e fazem refletir. ELE É UM GÊNIO. Gosto do estilo dele. Acho até que ele é minha alma gêmea literária (que audácia a minha!).

Transcrevi abaixo algo da autoria de Caio, e tirem suas próprias conclusões. Se não gostarem, desculpem-me, mas é por que não sabem apreciar a boa literatura contemporânea.
"E se realmente gostarem? Se o toque do outro de repente for bom? Bom, a palavra é essa. Se o outro for bom para você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Cheiros íntimos, secretos. Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua lá dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? Quando você chega no mais íntimo, No tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. Você também tem cheiros. As pessoas têm cheiros, é natural. Os animais cheiram uns aos outros. No rabo. O que é que você queria? Rendas brancas imaculadas? Será que amor não começa quando nojo, higiene ou qualquer outra dessas palavrinhas, desculpe, você vai rir, qualquer uma dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido? Se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou até gostar, porque de repente você até pode gostar, sem que isso seja necessariamente uma perversão, se tudo isso for o que chamam de amor. Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se amor for a coragem de ser bicho. Se amor for a coragem da própria merda. E depois, um instante mais tarde, isso nem sequer será coragem nenhuma, porque deixou de ter importância. O que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. Porque então você se ama também."
Interessante não? Uma visão tão animal do amor...
Consigo me perceber em alguns textos dele, como se eu mesma os houvesse escrito... Que escritor brilhante, capaz de colocar em palavras tudo aquilo que sinto sem nem ao menos me conhecer ou saber de minha reles existência. É preciso ter o dom das palavras...
"Algumas vezes eu fiz muito mal para pessoas que me amaram. Não é paranóia não. É verdade. Sou tão talvez neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos - e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes firo, sou agressivo e tal. É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso."
Caso tenham, assim como eu, gostado dos textos dele, pesquisem mais. Há vários textos muito bons e fáceis de encontrar na internet...
Melhores Contos - Caio Fernando Abreu
Aí tem uma seleção dos melhores contos, seleção de Marcelo Secron Bessa.
Espero que tenham gostado. ;)